quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Zé Pilintra

Jose Emerenciano nasceu em Pernambuco. Filho de uma escrava forra com seu 
ex-dono, teve algumas oportunidades na vida. Trabalhou em serviços de gabinete,
 mas não suportava a rotina. Estudou, pouco, pois não tinha paciência para isso.
Gostava mesmo era de farra, bebida e mulheres, não uma ou duas, mas muitas. 
Houve uma época em que estava tão encrencado em sua cidade natal que teve 
que fugir e tentar novos ares. Foi assim que Emerenciano surgiu na Cidade
 Maravilhosa. Sempre fiel aos seus princípios, está claro que o lugar 
escolhido havia de ser a Lapa, reduto dos marginais e mulheres de vida 
fácil na época. Em pouco tempo passou a viver do dinheiro arrecadado 
por suas "meninas", que apaixonadas pela bela estampa do negro, 
dividiam o pouco que ganhavam com o suor de seus corpos. Não foram 
 poucas as vezes que Emerenciano teve que enfrentar marginais em 
defesa daquelas que lhe davam o pão de cada dia. E que defesa! Era 
impiedoso com quem ousasse atravessar seu caminho. Carregava sempre 
consigo um punhal de cabo de osso, que dizia ser seu amuleto, e com ele
 rasgara muita carne de bandido atrevido, como gostava de dizer entre
 gargalhadas, quando nas mesas dos botecos de sua preferência. Bebia 
muito, adorava o álcool, desde a cachaça mais humilde até o isque mais 
requintado. E em diversas ocasiões suas meninas o arrastaram praticamente
 inconsciente para o quarto de uma delas. Contudo, era feliz, ou dizia
 que era, o que dá quase no mesmo. Até que conheceu Amparo, mulher do 
sargento Savério. Era a visão mais linda que tivera em sua existência.
 A bela loura de olhos claros, deixava-o em êxtase apenas por passar
 em sua frente. Resolveu mudar de vida e partiu para a conquista da deusa 
loura, como costumava chama-la. Parou de beber, em demasia, claro! Não
era homem também de ser afrouxado por ninguém, e uns golezinhos aqui e
ali não faziam mal a ninguém. Dispensou duas de suas meninas, precisava
 ficar com pelo menos uma, o dinheiro tinha que entrar, não é? Julgava-se 
então o homem perfeito para a bela Amparo. Começou então a cercar a
 mulher, que jamais lhe lançara um olhar. Aos amigos dizia que ambos 
 estavam apaixonados e já tinha tudo preparado para levá-la para 
Pernambuco, onde viveriam de amor. Aos poucos a história foi correndo, 
apostas se fizeram, uns garantiam que Emerenciano, porreta como era, ia
 conseguir seu intento. Outros duvidavam Amparo nunca demonstrara 
nenhuma intimidade por menor que fosse que justificasse a fanfarronice
 do homem. O pior tinha que acontecer, cedo ou tarde. O Sargento foi
informado pela mulher da insistente pressão a que estava submetida. 
Disposto a defender a honra da esposa marcou um encontro com o rival. 
Emerenciano ria, enquanto dizia aos amigos: - É claro que vou, ele quer
me dar a mulher? Eu aceito! Vou aqui com meu amigo... - E mostrava seu
 punhal para quem quisesse ver. Na noite marcada vestiu-se com seu 
melhor terno e dirigiu-se ao botequim onde aconteceria a conversa. Pediu
uísque, não era noite para cachaça, e começou a bebericar mansamente. 
 Confiava em seu taco e muito mais em seu punhal. Se fosse briga o que 
ele queria, ia ter. Ao esvaziar o copo ouviu um grito atrás de si: - Safado!
 - Levantou-se rapidamente e virou-se para o chamado. O tiro foi certeiro. 
O rosto de Emerenciano foi destroçado e seu corpo caiu num baque surdo.
 Recebido no astral por espíritos em missão evolutiva, logo se mostrou 
 arrependido de seus atos e tomou seu lugar junto a falange de Zé Pelintra. 
 Com a história tão parecida com a do mestre em questão, outra linha não
 lhe seria adequada. Hoje, trabalhador nos terreiros na qualidade de 
Zé Pelintra do Cabo, diverte e orienta com firmeza a quem o procura. 
Não perdeu, porém a picardia dos tempos de José Emerenciano.
 Sarava Seu Zé Pelintra! 

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